Processos fotográficos do século XIX e problemas de deterioração
Processos
fotográficos do século XIX e problemas de deterioração
“Diferentes
tipos de processos fotográficos foram introduzidos, floresceram e desapareceram
no curto período de 150 anos da história desta tecnologia de produção de
imagens”. (MUSTARDO; KENNEDY,
2004, p. 17)
A fotografia, de certa
forma, conquistou rapidamente o seu espaço na sociedade que entendia que “cabe
a ela [fotografia] prolongar a aparência das coisas, difundir os conhecimentos
e conservar a memória.” (CARTIER-BRESSON; 2004, p. 1)
É bem verdade que a
fotografia torna possível a observação de cenários, indumentárias e costumes de
maneira muito mais precisa que qualquer fonte escrita.
“As
excepcionais capacidades informativas e didáticas da fotografia abriram novas
perspectivas documentais e iconográficas, desbravadas já pelos primeiros
fotógrafos que percorriam o mundo, freqüentemente com o auxílio dos poderes
públicos”. (CARTIER-BRESSON,
2004, p. 1)
O homem sempre tentou representar a realidade ao seu
redor através de desenhos e pinturas. A câmara escura, desenvolvida na Itália
renascentista, era um instrumento que auxiliava no desenho. Essa câmara formava
uma imagem através da luz que entrava por um orifício e pessoas no mundo todo
buscavam uma maneira de fixar essa imagem captada em uma superfície. Contudo,
apenas no século XIX foram desenvolvidas diversas técnicas para gravar essa
imagem.
Deve ser observado que, apesar da invenção da fotografia
ser creditada a Daguerre, estudos recentes comprovam que, em 1833, o francês
radicado no Brasil, Hercule Florence (também conhecido com Hércules Florence),
desenvolveu um processo fotográfico rudimentar. No entanto, ele permaneceu no
anonimato por não ter divulgado na época, de maneira correta, sua descoberta. (ANDRADE, 1997, p.10)
O primeiro processo fotográfico amplamente divulgado e
utilizado foi o Daguerreótipo. O pintor e inventor Louis Jacques Mandé Daguerre
(1787-1851) revelou ao mundo sua invenção no dia 7 de janeiro de 1839. Em
agosto do mesmo ano, o Estado francês comprou a patente de seu invento e tornou
público os detalhes de fabricação e sua utilização. Todavia, o daguerreótipo
não era um processo de baixo custo e nem de fácil reprodução, logo, cada peça
era considerada única e preciosa. O próximo passo foi dado por William Herry Fox
Talbot (1800-1877) ao descobrir o sistema positivo-negativo. Denominou-se
calótipo ou talbótipo o conjunto do negativo em papel e da prova em papel
salgado. O calótipo não obteve tanta popularidade, pois a imagem produzida
apresentava acentuada granulação decorrente das fibras de papel do negativo que
apareciam impressas no positivo não possibilitando, assim, a reprodução
perfeita do pormenor. Em 1851, Frederich Scott Archer (1813-1857) substituiu o
papel pelo vidro na confecção de negativos, pois era necessário um material que
apresentasse uma transparência e polidez que possibilitasse a obtenção de uma
imagem positiva sem granulação. Nesse momento também a substância ligante foi
desenvolvida com o objetivo de fixar os sais de prata na superfície polida do
vidro. Contudo, existiram também outros processos como o ambrótipo que
consistia na produção de positivos diretos obtidos a partir de colódio úmido
sobre um fundo preto. O ambrótipo surgiu como uma possibilidade menos custosa
frente ao daguerreótipo. Logo depois, outro processo, o ferrótipo, usava como
suporte uma chapa de ferro esmaltada, tendo o cólodio como ligante e a prata
como substância formadora da imagem. Esse processo era efetuado por fotógrafos
nas ruas, não sendo necessárias técnicas refinadas para sua obtenção.
Inúmeros processos foram confeccionados utilizando diferentes tipos de suportes, ligantes, substâncias
formadoras da imagem e tratamentos químicos visando baratear o custo,
obter uma imagem de qualidade e de fácil reprodução. Todavia, pouco depois do
desenvolvimento desses processos fotográficos, percebeu-se que apresentavam
sérios problemas relacionados à instabilidade, visto que se degradavam com o
tempo e, às vezes, perdiam-se por completo. Reilly afirma que a
“literatura dos fotográficos do
período 1860-1895 contém inúmeras menções e reclamações sobre o amarelecimento
dos destaques em papel albúmen [albumina], embora pareça claro que nem perto de
85% das impressões tinha amarelado a um "grau moderado a grave"
durante o período em papel albúmen ainda estava em uso geral”. (REILLY,
1980, p. 107)
Com o objetivo de tentar
reverter esses problemas profissionais, quase sempre químicos empíricos,
buscaram elaborar técnicas que conferissem mais estabilidade às fotografias.
Instituições também buscaram desenvolver pesquisas que apontassem os mecanismos
que davam início à deterioração.
“A
partir de meados dos anos 1850,
a Société
Française de Photographie e a Royal
Photographic Society de Londres encorajam esses trabalhos. Nos dez anos que
se seguiram, os principais fatores de deterioração das imagens à base de sais de
prata foram corretamente identificados e circunscritos”. (CARTIER-BRESSON , 2004, p.1)
Esses estudos constataram
corretamente que a alta umidade causava o desbotamento e o amarelecimento das
fotografias. Esse período foi de experimentação técnica em que também se
consolidou a profissão do fotógrafo. Várias modificações químicas e métodos são
desenvolvidos visando dissimular ou minimizar as imperfeições e prevenir a
deterioração das espécies fotográficas. O dano potencial que afetava as
fotografias acarretou uma busca permanente por processos mais duráveis, uma vez
que era inegável a importância do registro fotográfico.
English version
19th century photographic processes and deterioration problems
"Different types of photographic processes were introduced, flourished and disappeared in the short 150-year history of this imaging technology." (MUSTARD, KENNEDY, 2004, p.17)
Photography, in a way, quickly gained its place in society, which understood that "it is up to her [photography] to prolong the appearance of things, to spread knowledge and to preserve memory" (Cartier-Bridess 2004: 1) It is quite true that photography makes it possible to observe scenarios, costumes and customs much more accurately than any written source.
"The exceptional information and teaching capacities of photography opened up new documentary and iconographical perspectives, pioneered by the first photographers that traveled the world, often with the help of public authorities." (CARTIER-BRESSON, 2004, p.1)
Man has always tried to represent reality around him through drawings and paintings. The darkroom, developed in Renaissance Italy, was an instrument that aided in drawing. This camera formed an image through the light that entered through a hole and people around the world were looking for a way to fix that image captured on a surface. However, it was not until the nineteenth century that several techniques were developed to record this image.
It should be noted that, despite the invention of photography being credited to Daguerre, recent studies prove that, in 1833, the Frenchman living in Brazil, Hercule Florence (also known as Hercules Florence), developed a rudimentary photographic process. However, he remained anonymous for not having disclosed at the time, correctly, his discovery. (ANDRADE, 1997, p.10)
The first photographic process widely publicized and used was the Daguerreotype. The painter and inventor Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) revealed to the world his invention on January 7, 1839. In August of the same year, the French state bought the patent for his invention and made public the details of manufacture and its use. However, the daguerreotype was not a low cost process nor easy to reproduce, so each piece was considered unique and precious. The next step was given by William Herry Fox Talbot (1800-1877) to discover the positive-negative system. Calotype or talbotype was defined as the set of negative on paper and the proof on salty paper. The calotype did not get so much popularity, because the image produced had a marked granulation resulting from the negative paper fibers that appeared printed on the positive, thus not allowing the perfect reproduction of the detail. In 1851, Frederich Scott Archer (1813-1857) replaced paper with glass in the manufacture of negatives, since a material with a transparency and politeness was necessary to obtain a positive image without granulation. At that time also the binder substance was developed with the purpose of fixing the silver salts on the polished surface of the glass. However, there were also other processes such as the amberotype which consisted of the production of direct positives obtained from wet collodion on a black background. The ambrótipo appeared like a less expensive possibility before the daguerreotype. Soon after, another process, the fertitype, used as support an enameled iron plate, having the colloid as binder and silver as the image-forming substance. This process was carried out by photographers in the streets, and no refined techniques were necessary to obtain them.
Numerous processes have been made using different types of substrates, binders, image forming substances and chemical treatments in order to reduce cost, obtain a quality image and easy reproduction. However, shortly after the development of these photographic processes, they were found to have serious problems related to instability, since they degraded over time and sometimes were completely lost. Reilly states that
"Photographic literature from the period 1860-1895 contains numerous mentions and complaints about the yellowing of highlights in albumin paper, although it seems clear that not even close to 85% of the prints had yellowed to a" moderate to severe degree "during the period on albumen paper was still in general use. " (Reilly, 1980, p.107)
With the objective of trying to revert these professional problems, almost always empirical chemists, they tried to elaborate techniques that confer more stability to the photographs. Institutions also sought to develop research that pointed to the mechanisms that started the deterioration.
"From the mid-1850s the Société Française de Photographie and the Royal Photographic Society of London encouraged such works. In the ten years that followed, the major deterioration factors of silver-salt images were correctly identified and circumscribed. " (CARTIER-BRESSON, 2004, p.1)
These studies correctly verified that high humidity caused fading and yellowing of photographs. This period was of technical experimentation in which also the profession of the photographer was consolidated. Various chemical modifications and methods are developed to conceal or minimize imperfections and prevent the deterioration of photographic species. The potential damage that affected the photographs led to a permanent search for more durable processes, since the importance of the photographic record was undeniable.
Referência / Reference
COSTA, Bianca
Mandarino da. Conservação e
preservação de fotografias albuminadas. Monografia
apresentada à Escola de Museologia da UNIRIO. 81p. 2009
MUSTARDO,
Peter; KENNEDY, Nora. Preservação
de fotografias: métodos básicos para salvaguardar coleções. In:
Cadernos técnicos de conservação fotográfica 2. Rio de Janeiro: Funarte, 2004.
REILLY, James M. The Albumen & salted paper book.
The history and practice of photographic printing 1840-1895. Light impressions.
New York .
1980.
CARTIER-BRESSON,
Anne. Uma nova disciplina: a
conservação-restauração de fotografias. In: Cadernos técnicos de
conservação fotográfica 3. Rio de Janeiro: Funarte, 2004, p.
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