Fotografias albuminadas

Fotografias albuminadas

O termo fotografia é usado, na atualidade, genericamente para designar objetos de natureza bastante diversa e que tem em comum a ação da luz na formação da imagem. A expressão espécie fotográfica é utilizada por Pavão para assinalar, de maneira geral, objetos que contenham imagens fotográficas.    
“[...] uma fotografia será uma composição de materiais, em geral com uma configuração laminada ou em camadas, com todas as resultantes químicas e os riscos físicos que isto possa acarretar”. (MUSTARDO; KENNEDY, 2004, p. 19)
A fotografia ou espécie fotográfica consiste da integração de várias camadas que, de maneira geral, podem ser divididas em suporte, substância formadora da imagem e meio ligante. O suporte tem o objetivo de servir como estrutura para a imagem. Diversos materiais foram utilizados para este fim, como por exemplo, vidro, metal, plástico, sendo o papel o mais comum. A substância formadora da imagem é o material que confere os tons de claro e escuro e, posteriormente, com o desenvolvimento da fotografia colorida, dá cor à imagem. Temos como exemplo de substância formadora da imagem os sais de prata, platina, corantes e pigmentos sintéticos ou orgânicos. Enquanto que o meio ligante (também conhecido como aglutinante) é a substância que mantém unido a substância formadora da imagem e o suporte. A substância formadora da imagem e o meio ligante constituem um conjunto denominado emulsão. Como ligante já foi utilizada a albumina (clara de ovo salgada), colódio e a gelatina (proteína retirada de ossos e couro de animais). A estabilidade do ligante é de suma importância para garantir que uma imagem mantenha-se em boas condições por mais tempo.
Uma prova consiste na obtenção de um positivo através de um negativo. É definido como prova a
“imagem positiva sobre um suporte opaco, geralmente em papel ou eventualmente em plástico, que foi impressa a partir de uma matriz de impressão (um negativo [...]). A matriz permite a reprodução de muitos exemplares da mesma imagem”. (PAVÃO, 1997, p.73)
         As provas podem ser denominadas de acordo com seu processo de confecção. Há dois tipos de processamento: o fotográfico e o fotomecânico. Na prova fotográfica a imagem é gerada com o uso de um negativo sobreposto a um papel sensibilizado e que é, em seguida, exposto à luz. Já nas provas fotomecânicas a imagem é formada através de tinta depositada no papel sobre uma matriz de impressão, não possuindo nenhuma etapa de exposição à luz. (PAVÃO, 1997, p.74).
As provas de albumina, no contexto em que foram desenvolvidas, possibilitavam maior contraste e evidenciavam imagens mais detalhadas do que no papel salgado (processo fotográfico anterior). A albumina ocupava o papel de maneira a fechar seus poros e formar, sobre ele, uma camada separada onde a imagem de prata se formava sendo possível se ter maior densidade e contraste.
Em decorrência da grande procura pelo público, foi desenvolvido em 1854, o papel albuminado produzido de maneira industrial tornando o processo mais prático para o fotógrafo. As fábricas de papel albuminado espalhavam-se por toda a Europa e nos Estados Unidos, sendo que as mais famosas concentravam-se em Dresden, na Alemanha. Reilly ilustra bem a escala de produção dessas fábricas
uma empresa [...] chamada Dresdener Albuminfabriken AG, em 1888 produziu 18.674 resmas de papel albúmen. Cada resma consistiu de 480 folhas 46 x 58 cm de tamanho. Para revestir uma resma de papel necessários 9 litros de solução de albumina, obtidos a partir de 27 dúzias de ovos. Assim, a produção total de um ano em que esta fábrica uma consumidos mais de seis milhões de ovos”. (REILLY, 1980, p.33-34)
Em 1855, o processo de papel de albumina já era a técnica mais usada para a impressão de negativos em processo de colódio úmido uma vez que tornava mais fácil a obtenção de imagens duplicadas. A união do negativo de colódio úmido e o papel de albumina foi o processo mais comum no mundo até 1880, diminuindo gradativamente até 1895. Porém, o papel albuminado só parou de ser fabricado definitivamente em 1930.
Apesar da grande popularidade, o papel albuminado já foi precocemente identificado como instável. O príncipe Alberto da Inglaterra formou o Fading Comitee, em 1855, com o objetivo de identificar os problemas que causavam a deterioração das provas albuminadas. Os motivos identificados foram: poluição, umidade, fixação e lavagem de má qualidade. Tais conclusões, no entanto, não evitavam que as fotografias continuassem a se deteriorar. As provas de albumina que chegaram à atualidade são, em sua maioria, completamente amarelecidas e seus detalhes e contrastes foram irremediavelmente perdidos. 
As provas albuminadas existentes hoje, em sua maioria, apresentam-se em avançado estado de degradação. Cartier-Bresson afirma que há pessoas que apreciam tais alterações, considerando-as como uma marca do tempo e até portadora de uma beleza plástica. No entanto, a deterioração pode acarretar a perda total das imagens e, conseqüentemente, de sua informação. Tendo em vista retardar tal processo é necessário que medidas sejam tomadas, medidas essas quase sempre são de natureza interdisciplinar, pois demandam conhecimentos específicos em diversas áreas.    
  
Para saber mais sobre deterioração de fotografias.

Crédito do texto: Bianca Costa
                   
Referência

COSTA, Bianca Mandarino da. Conservação e preservação de fotografias albuminadas. Monografia apresentada à Escola de Museologia da UNIRIO. 81p. 2009
             
MUSTARDO, Peter; KENNEDY, Nora. Preservação de fotografias: métodos básicos para salvaguardar coleções. In: Cadernos técnicos de conservação fotográfica 2. Rio de Janeiro: Funarte, 2004, p.19.

PAVÃO, Luís. Conservação de coleções de fotografia. Lisboa: Dinalivro, 1997, p. 74.

REILLY, James M. The Albumen & salted paper book. The history and practice of photographic printing 1840-1895. Light impressions. New York. 1980 p. 33-34.
                                              
CARTIER-BRESSON, Anne. Uma nova disciplina: a conservação-restauração de fotografias. In: Cadernos técnicos de conservação fotográfica 3. Rio de Janeiro: Funarte, 2004, p. 1-5.

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